Quebrar tabus não é fácil, mas é preciso esclarecer, conscientizar e estimular a prevenção para reverter situações críticas como as que nós estamos vivendo. O problema de saúde pública que estamos encarando agora é causado, principalmente, pelo desconhecimento das pessoas sobre as causas do suicídio e os tratamentos para evitar que ele aconteça.
Muitas vezes, familiares e amigos não reconhecem os sinais de que alguém querido vai tirar a própria vida. Aliás, muitas vezes, a própria vítima não entende que precisa de ajuda e acaba se afundando cada vez mais em uma solidão desesperadora. Por isso, é preciso falar sobre suicídio e discutir a depressão abertamente.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, 9 em cada 10 casos de suicídio poderiam ser prevenidos se a pessoa buscar ajuda e se tiver a atenção de quem está à sua volta. Mas como fazer isso se a vítima não entende o que está sentindo e se os seus familiares e amigos não reconhecem os sinais?
Existem alguns sinais de alerta que podem salvar a vida de quem você ama. Veja quais são os principais:
- Reconheça os padrões de pensamento suicidas. Normalmente, quem pretende tirar a própria vida apresenta os seguintes padrões: elas remoem pensamentos obsessivamente e não conseguem parar, se sentem extremamente sem esperança, vêem a vida como algo sem significado e, normalmente, descrevem uma sensação de nevoa nos pensamentos que dificulta a concentração;
- Reconheça as emoções suicidas. Elas podem se manifestar em alterações extremas de humor, excesso de raiva ou sentimento de vingança, ansiedade, irritabilidade e sentimentos intensos de culpa ou vergonha. Pessoas com tendência suicida normalmente se sentem um fardo para os outros e acreditam que estão sozinhas mesmo quando estão perto de outras pessoas;
- Reconheça avisos verbais. Quando alguém começar a falar muito sobre morte, preste atenção. Algumas frases são freqüentes: “a vida não vale a pena”, “não vou mais ficar triste porque não vou estar mais aqui”, “você vai sentir minha falta quando eu for” ou “ninguém vai sentir minha falta se eu morrer”, “não agüento a dor, não consigo lidar com isso”, “estou tão sozinho que queria morrer”, “não se preocupe, eu não vou estar por aqui para ver o que vai acontecer”, “não vou te atrapalhar mais”, ou “queria não ter nascido”;
- Fique de olho na melhora súbita. Muitas vezes, o maior potencial para o suicídio não é o fundo do poço, mas a súbita sensação de melhora. Isso pode indicar que a pessoa aceitou a decisão de encerrar a própria vida e está aliviada por ter um plano. Então, se uma pessoa depressiva e com grandes tendências suicidas melhorar de uma vez, é melhor tomar providencias imediatas;
- Reconheça mudanças de comportamento. Quando você sentir que a pessoa está querendo fechar pontas soltas, doar seus pertences, fazer arranjos financeiros ou visitar vários entes queridos de uma só vez, é hora de intervir;
- Reconheça comportamentos irresponsáveis e perigosos como o uso excessivo de drogas (legais ou ilegais), direção imprudente e sexo desprotegido com vários parceiros;
- Procure por ferramentas possíveis para o suicídio. Por exemplo: se a pessoa comprou uma arma ou remédios sem motivo aparente, é hora de pedir ajuda;
- Perceba mudanças extremas na rotina, repare se a pessoa parou de freqüentar, sem motivo aparente, eventos e lugares que sempre gostou de visitar. Quando alguém para de praticar atividades que, até então, lhe davam prazer, é um grande sinal de alerta;
- Preste atenção na energia: pessoas depressivas ou suicidas normalmente têm pouca energia para tarefas básicas, têm dificuldade de tomar decisões e, por exemplo, falta de vontade de se relacionar sexualmente;
- Não ignore fatores de risco: morte de um ente querido, perda de emprego, bullying e separações traumáticas podem afetar e intensificar desejos suicidas. Um histórico de abuso físico ou sexual também pode servir de gatilho, assim como tentativas prévias de suicídio.
Como conversar.
Conversar com alguém que tenha tendências suicidas pode parecer complicado mas, para saber o que dizer e como agir, basta ter paciência e escolher o tom certo.
Quando alguém estiver exibindo sinais de risco, é fundamental falar de forma carinhosa e sem julgamentos. Escute com paciência, não julgue, não diga que a pessoa está fazendo drama ou exagerando, e nem fale que ela precisa ser mais forte.
Não diga que ela deve se sentir com sorte pela vida que tem, e nem a faça se sentir envergonhada ou menor pelos seus pensamentos suicidas. Ao dizer esse tipo de coisa, você vai piorar a situação e fazê-la se sentir ainda mais determinada em tirar a própria vida.
Ninguém mergulha nesse sentimento horrível por escolha própria, ninguém quer se sentir assim e ninguém deseja continuar nesse estado. Por isso, você precisa compreender e conversar sobre isso!
Uma recomendação é ser direto e perguntar se a pessoa planeja algo ou pretende tirar a própria vida. Você vai sentir na resposta os sinais de alerta e, então, deve ligar para a emergência se souber que a pessoa já elaborou planos e precisa de ajuda imediata.
Mas não espere a pessoa dizer que quer se matar para buscar ajuda. Muita vezes, a pessoa com tendências suicidas não conta seus planos ou compartilha seus pensamentos. Por isso, se algum conhecido está exibindo os sinais de alerta acima, procure ajuda.
Buscando ajuda profissional.
Quem pensa em cometer suicídio deve ligar para o Centro de Valorização da Vida através no número 141, mas quem convive com essa pessoa também pode entrar em contato com essa linha de assistência. Os atendentes podem ajudar e, inclusive, te instruir e te conectar com psiquiatras e psicólogos.
Não acredite em sinais repentinos de melhora, quem sofre com tendências suicidas deve iniciar um tratamento urgente e adequado.
Enquanto isso, você pode pedir ajuda para se livrar de possíveis ferramentas suicidas, como armas (brancas ou de fogo), drogas, medicamentos e produtos que possam ser ingeridos com o objetivo de causar a própria morte. Cerca de 25% dos suicídios acontecem através do enforcamento, então, enquanto a pessoa estiver sob tratamento, é importante esconder itens como gravatas, cintos, cordas e lençóis. Na fase mais crítica, a pessoa provavelmente vai ficar internada mas, se estiver em casa, é importante que você demonstre seu apoio e diga que está fazendo isso para ajudá-la.
Depois que ela começar o tratamento, não saia do lado dela. Você precisa saber se ela está tomando os remédios de acordo com a prescrição, você precisa garantir que ela está freqüentando as sessões de terapia e, além disso, você precisa ajudá-la a não ter uma recaída. Muitas vezes, a recaída vem depois do uso de bebidas alcoólicas, então, não deixe que ela beba enquanto está se tratando.
Sente com ela e a ajude a elaborar um plano de segurança para aqueles momentos de desespero. Assim, quando ela pensar em suicídio outra vez, vai saber como agir para evitar o pior.
É importante saber que, apesar de todas essas bandeiras vermelhas, 25% das vítimas de suicídio não demonstra nenhum sinal significativo.
Então, é importante ficar de olho nos pequenos detalhes que podem surgir principalmente depois de algum trauma.
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Fonte e agradecimentos: Manual do Homem Moderno.