Texto de João Ricardo Cozac
O amigo leitor poderá indagar: “ora, goleamos a Seleção dos Estados Unidos e por qual razão esse blogueiro está escrevendo sobre a Psicologia Esportiva?”. Ok, vamos lá!
Apesar dos quase 25 anos estudando, pesquisando, lecionando e atuando com a Psicologia do Esporte, ainda me sinto pregando no deserto. Por sorte (e alegria), alguns colegas começam a engrossar o coro pela valorização da Psicologia Esportiva no futebol.
Não vou comentar a boa vitória sobre a equipe dos Estados Unidos. Até porque, Costa Rica e Estados Unidos não tem equipes que possam ser comparadas, atualmente, com o futebol sul americano. De toda forma, a equipe parece evoluir dentro de campo.
Por outro lado, ouvi agora na tv que o ex-jogador Edmílson está, hoje, com o Dunga e o restante da Comissão Técnica para ser uma espécie de “motivador” (até os “motivadores” estão banalizados). Aliás, a profissão de motivador é aberta a qualquer um que tenha, minimamente, o dom da oratória. E só!
Penso que a Seleção Brasileira, depois do trauma da última Copa, merece um trabalho mais consistente e com tempo suficiente para gerar resultados sólidos. De nada adianta contratar psicólogos 2 semanas antes da Copa. A experiência se mostrou pouquíssimo produtiva. As demandas emocionais não escolhem hora para aparecer.
No módulo de Psicologia do Esporte – no curso de formação para novos treinadores, oferecidos pela CBF, há 5 entrevistas minhas falando sobre a necessidade de se ter um departamento fixo de Psicologia do Esporte para que, a cada convocação, se possa auxiliar na formação de um grupo coeso e participativo – além, claro, de forte emocionalmente.
Na prática, o que vemos é algo totalmente diferente. Ainda existe (e não é pouco) o preconceito que liga o futebol à Psicologia. Treinadores reconhecem a importância dos aspectos psicológicos, mas não abrem espaço para trabalhos a longo prazo – como se faz no futebol alemão, holandês, italiano etc.
Por aqui, ainda tentam “resolver” tudo na base da palestra rápida e sem vínculo algum com as necessidades individuais e coletivas do time . Aquela boleiragem que não leva a lugar algum e só reforça o senso comum – cada vez mais comum.
Imaginem se houvesse um departamento fixo de Psicologia do Esporte, com 2 ou 3 profissionais bem formados na área, com conhecimento amplo sobre o futebol e os traços de personalidade mais comuns e recorrentes dos jogadores. Um departamento que pudesse atuar de forma multi e interdisciplinar com o médico, preparador físico, nutricionista e técnico.
Nesse trabalho, se poderia aferir as relações internas do grupo através de uma análise sociométrica bem realizada – além do levantamento do perfil individual dos atletas – acompanhamento de jogos e treinos – orientação psicológica individual – palestras de motivação realizadas pelo próprio grupo de psicólogos (aí sim, aptos para levar materiais pertinentes às demandas do grupo de jogadores).
Além de todo arsenal psicológico já bem desenvolvido no esporte – há a possibilidade de se atuar com o bifeedback e neurofeedback para controle da ansiedade, gerenciamento da concentração e técnicas de respiração e autorregulação mental.
Aliás, vocês sabiam que os alemães trouxeram para a Copa, aparelhos muito modernos de biofeedback e neurofeedback para dar continuidade ao treinamento iniciado por lá?
Com tudo isso, ligar a televisão e saber que o Edmilson, hoje, e o “representante do ânimo” do grupo, me dá um desânimo sem tamanho.
Será que o Dunga imagina que a Psicologia do Esporte é algo que vai muito além de um “bate papo” com os jogadores antes das partidas? Olho para o Gilmar Rinaldi (diretor de seleções) no banco de reserva e penso a mesma coisa.
Mais uma lição sobre como não aprender com o #eterno7a1
A Psicologia Esportiva precisa vir como PREVENÇÃO e não como “corpo de bombeiros”.
Não será com autoajuda que o futebol brasileiro resgatará sua história!