Você já imaginou como é o atendimento psicoterapeutico para as pessoas surdas?
A atenção Psicológica consiste numa prática (ou um conjunto delas) que tem como objetivo final promover a saúde das pessoas, e uma ferramenta fundamental para que este processo ocorra é a comunicação. Então, você já imaginou quais os desafios enfrentados pelas pessoas surdas, que têm a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como principal meio de comunicação, quando necessitam de atenção Psicológica?
O fato de muitos surdos não se expressarem verbalmente através da língua oral padrão não significa que não possuam demandas psicológicas. Ao contrário, são constituídos sujeitos através da sua língua e possuem subjetividade como qualquer outra pessoa. No entanto, existe uma carência muito grande de profissionais qualificados para atender a essa população.
A LIBRAS é reconhecida como meio legal de comunicação e expressão das pessoas surdas do Brasil, instituída pela Lei 10.436 de 2002. Mas ainda falta muito para que a sua difusão, inclusão e adequação nas grades curriculares de diversos cursos de graduação, sobretudo da área da saúde, sejam efetivados, gerando, assim, mudanças na qualidade da atenção à pessoa surda.
Uma das alternativas possíveis, no caso da atenção psicológica, é a intermediação da consulta (atendimento) por um intérprete da LIBRAS, o que, muitas vezes, pode produzir implicações éticas, visto que é essencial a manutenção do sigilo na relação psicólogo – paciente, previsto pelo Código de Ética do Profissional do Psicólogo. Além do mais, a inserção de um terceiro nessa relação pode influenciar e, muitas vezes, inibir o processo da atenção psicológica.
Mesmo diante dos avanços na sociedade e no reconhecimento de direitos das pessoas com deficiência, existe uma lacuna referente ao acesso do surdo ao psicólogo, além da escassez de modelos alternativos de atendimento a pessoas surdas, qualificação de profissionais e reconhecimento da Cultura e Identidade Surdas como legítimas em nossa sociedade. O modelo médico clínico ainda se apresenta como predominante, buscando oferecer a “cura” da surdez para a inserção do surdo na sociedade ouvinte, desconsiderando o potencial e desenvolvimento da pessoa surda através do uso da LIBRAS.
Apesar das conquistas e do reconhecimento de direitos das pessoas com deficiência e das medidas de inclusão social dos surdos, é notável a ausência de informação, pesquisas e documentos acerca de temas relacionados à atenção psicológica na área da surdez. Cabe uma reflexão, principalmente no campo da psi, sobre o quanto se pode contribuir e fomentar discussões acerca de um tema tão cotidiano quanto marginalizado, muitas vezes, por quem deveria acolher a dor do outro, a dor de não se comunicar e não ser “escutado”.
Surdos, ouvintes, psicólogos e toda a sociedade: vamos conversar sobre isso?
Esta comunicação tem o caráter de divulgação acadêmica e compromisso social, e deriva do trabalho de conclusão de curso do discente Álon Mauricio da Silva e Silva, intitulado ‘Políticas Públicas e desafios na Atenção Psicológica a surdos utilizadores da LIBRAS em Salvador’, orientado pela docente Maria Beatriz Barreto do Carmo.
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