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10 razões contra a redução da maioridade penal.


1. A adolescência é uma das fases do desenvolvimento dos indivíduos e, por ser um período de grandes transformações, deve ser pensada pela perspectiva educativa. O desafio da sociedade é educar seus jovens, permitindo um desenvolvimento adequado tanto do ponto de vista emocional e social quanto físico;

2. É urgente garantir o tempo social de infância e juventude, com escola de qualidade, visando condições aos jovens para o exercício e vivência de cidadania, que permitirão a construção dos papéis sociais para a constituição da própria sociedade;

3. A adolescência é momento de passagem da infância para a vida adulta. A inserção do jovem no mundo adulto prevê, em nossa sociedade, ações que assegurem este ingresso, de modo a oferecer – lhe as condições sociais e legais, bem como as capacidades educacionais e emocionais necessárias. É preciso garantir essas condições para todos os adolescentes;

4. A adolescência é momento importante na construção de um projeto de vida adulta. Toda atuação da sociedade voltada para esta fase deve ser guiada pela perspectiva de orientação. Um projeto de vida não se constrói com segregação e, sim, pela orientação escolar e profissional ao longo da vida no sistema de educação e trabalho;

5. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) propõe responsabilização do adolescente que comete ato infracional com aplicação de medidas socioeducativas. O ECA não propõe impunidade. É adequado, do ponto de vista da Psicologia, uma sociedade buscar corrigir a conduta dos seus cidadãos a partir de uma perspectiva educacional, principalmente em se tratando de adolescentes;

6. O critério de fixação da maioridade penal é social, cultural e político, sendo expressão da forma como uma sociedade lida com os conflitos e questões que caracterizam a juventude; implica a eleição de uma lógica que pode ser repressiva ou educativa. Os psicólogos sabem que a repressão não é uma forma adequada de conduta para a constituição de sujeitos sadios. Reduzir a idade penal reduz a igualdade social e não a violência - ameaça, não previne, e punição não corrige;

7. As decisões da sociedade, em todos os âmbitos, não devem jamais desviar a atenção, daqueles que nela vivem, das causas reais de seus problemas. Uma das causas da violência está na imensa desigualdade social e, conseqüentemente, nas péssimas condições de vida a que estão submetidos alguns cidadãos. O debate sobre a redução da maioridade penal é um recorte dos problemas sociais brasileiros que reduz e simplifica a questão;

8. A violência não é solucionada pela culpabilização e pela punição, antes pela ação nas instâncias psíquicas, sociais, políticas e econômicas que a produzem. Agir punindo e sem se preocupar em revelar os mecanismos produtores e mantenedores de violência tem como um de seus efeitos principais aumentar a violência;

9. Reduzir a maioridade penal é tratar o efeito, não a causa. É encarcerar mais cedo a população pobre jovem, apostando que ela não tem outro destino ou possibilidade;

10. Reduzir a maioridade penal isenta o Estado do compromisso com a construção de políticas educativas e de atenção para com a juventude. Nossa posição é de reforço a políticas públicas que tenham uma adolescência sadia como meta.

Quadro clínico do transtorno obsessivo-compulsivo.


A caracterização do transtorno baseia-se na ocorrência primária de obsessões e/ou compulsões. Obsessões são pensamentos, impulsos ou imagens mentais recorrentes, intrusivos e desagradáveis, reconhecidos como próprios e que causam ansiedade ou mal-estar relevantes ao indivíduo, tomam tempo e interferem negativamente em suas atividades e/ou relacionamentos. Note-se que imagens aversivas e impulsos egodistônicos ameaçadores, em geral agressivos, podem predominar. Já compulsões são comportamentos ou atos mentais repetitivos que o indivíduo é levado a executar voluntariamente em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras rígidas, para reduzir a ansiedade/mal-estar ou prevenir algum evento temido. Assim, enquanto as obsessões causam desconforto emocional, os rituais compulsivos (sempre excessivos, irracionais ou mágicos) tendem a aliviá-lo, mas não são prazerosos. A função de neutralização ou atenuação imediata da ansiedade manteria os sintomas em um ciclo de difícil rompimento3 em que, paradoxalmente, para sentir-se melhor, o indivíduo se escraviza.

Apesar de mais freqüente, nem sempre obsessões e compulsões estão associadas, havendo pacientes puramente obsessivos e, mais raramente, só compulsivos.4-7 No último caso, os rituais (p. ex.: de colecionamento, simetria ou ordenação) são executados para aliviar um mal-estar descrito como ansiedade, sensação de premência, imperfeição ou incompletude, sem uma preocupação ou temor específicos relacionados ao comportamento. As ações são repetidas até que a pessoa se sinta melhor ou considere que aquilo está “certo” ou concluído.

Um aspecto característico é a fácil evocabilidade dos sintomas, havendo infindáveis estímulos externos (sujeira, bactérias, facas) e internos (pensamentos, lembranças) capazes de, por associação, desencadear desconforto. Estes podem se generalizar também pelo plano simbólico (p. ex.: pensamentos sexuais ou agressivos e sujeira).3 O medo é idiossincrático: enquanto um considera “sujo” sangue e tudo que se refere a isso, outros temem contato com urina, gordura, graxa, pó de café, vidro etc. Na maioria dos casos, há múltiplas obsessões e compulsões simultâneas e não sintomas únicos ou pares, e os pacientes mudam de tema ou tipo de sintoma com o passar do tempo. Trata-se em regra de um quadro crônico e freqüentemente de início precoce,6,8 com flutuação na intensidade dos sintomas ao longo do tempo. Enquanto na maior parte dos casos há piora em fases de vida difíceis, alguns relatam atenuação dos sintomas na ocorrência de algum problema sério que exija enfrentamento.2 Não há necessariamente piora progressiva, mas os rituais tendem a ficar mais sedimentados com o tempo. Ressalte-se que a gravidade é bastante variável, havendo desde casos leves até aqueles extremamente graves e incapacitantes.

Tipos de sintomas

O conteúdo dos pensamentos ou das imagens mentais aversivas geralmente se refere a acidentes, doenças ou perda de pessoas queridas. As obsessões de contaminação (Aids, sujeira, radioatividade) são conhecidas, e as somáticas (preocupações com outras doenças, com a aparência física) podem apresentar pior nível de crítica.7 As obsessões agressivas apresentam-se geralmente como “fobias de impulsos”: medo de ferir, matar ou prejudicar alguém sem querer, de se matar, fazer algo proibido ou embaraçoso (p. ex.: furtar, xingar, assediar). Muitos evitam manusear facas, tesouras, fósforos, ou quaisquer objetos que considerem perigosos, ou ficar sozinhos, por não confiarem em si mesmos. Mesmo nada de fato ocorrendo, a ameaça persiste e costuma ser muito assustadora, por vezes associada à dúvida sobre ter ou não feito o ato tão temido. Pensamentos obsessivos “neutros” são palavras, sons, músicas intrusivas ou imagens que, pela recorrência, atrapalham e tornam-se aversivos.

As compulsões de verificação podem estar relacionadas a obsessões somáticas (auto-exame) e ao medo de, por imprudência, vir a causar alguma catástrofe. Os rituais de lavagem (de mãos, banhos, objetos), quando intensos, causam até dermatites e problemas de coluna. As compulsões de contagem podem se associar às de repetição e são geralmente mentais (somas e divisões desnecessárias, repetir várias vezes tal ato), e as de simetria são inúmeras: posição de livros, de sapatos ou outros objetos, ordenação de roupas no varal e mesmo simetria em toques ou esbarrões (p. ex.: ter de tocar com a mão direita naquilo que foi tocado com a esquerda ou vice-versa). Já os rituais de colecionamento são menos conhecidos: incapacidade de se desfazer de jornais, notas fiscais antigas, embalagens inúteis, papéis de bala ou objetos encontrados na rua. São considerados rituais “diversos”: sapatear, rezar, perguntar, relembrar, gesticular, tocar, cuspir etc. Como se vê, trata-se de um transtorno extremamente heterogêneo,9 que pode ter incontáveis apresentações; ou seja, em princípio, qualquer comportamento pode ser compulsivo.

Um sintoma raro e menos conhecido é a lentidão obsessiva, em que os pacientes não repetem suas ações, mas demoram horas em tarefas diárias. Na maioria, há indecisão, ruminações e rituais encobertos provavelmente responsáveis pela lentidão. Aparentemente temeriam errar ou causar problemas, por isso a demora excessiva nas ações.1

Os obsessivos vivenciam exageradamente quaisquer riscos. A ansiedade seria mais intensa quando predominasse essa sensação exacerbada de vulnerabilidade ao perigo. No extremo oposto, estariam pacientes com rituais de simetria/ordenação ou lentidão, com predominância da sensação de não-finalização e menos ansiedade. A dúvida patológica consiste na incapacidade de se certificar, por exemplo, de que a porta está trancada, o botijão desligado, a louça bem lavada ou, mais irracional e incompreensivelmente, de que não engoliram cacos de vidro, não são homossexuais, não traíram o cônjuge ou mataram alguém sem perceber. Vale lembrar que o TOC já foi conhecido como “loucura da dúvida”. Na verdade, em muitos casos tal separação é difícil, com os três aspectos muito interligados.

O problema central seria a persistência de “sinais de erro”, que não desapareceriam com o comportamento, mantendo a sensação de dúvida e incompletude. Enquanto o sinal perceptual não coincidir com o referencial interno, as compulsões se repetiriam para tentar reduzir essa diferença, mas em vão, pois o dano estaria no sistema comparador.

A culpa é outro fenômeno importante e constante nas descrições clínicas, considerada a base do sofrimento desses pacientes. Haveria dois subgrupos principais: pacientes mais voltados para um passado de culpa, que temem principalmente a responsabilidade, e outros mais preocupados com o futuro ameaçador, predominando a sensação de fragilidade (mais temores de contaminação e da morte). Enquanto estes se sentem ameaçados, aqueles se consideram uma ameaça para os outros.

Existe uma fusão psicológica entre pensamento e ação: como temem que pensar algo ruim resulte na realização do pensamento, tendem a suprimir a raiva ou sua expressão para evitar “fatalidades”. Os limites entre mundo mental e real estariam de certa forma comprometidos. Tal natureza bizarra do pensamento obsessivo teria dado ao TOC sempre um “status especial” entre os transtornos de ansiedade.

Julgamento Crítico

A maioria dos pacientes apresenta a capacidade crítica preservada e envergonha-se de seus pensamentos e/ou comportamentos, procurando ocultá-los. Muitos, enquanto conseguem, restringem seus rituais a alguns cômodos da casa ou a quando estão sozinhos. Assim, mesmo pessoas bem próximas podem desconhecer a existência do problema. Trata-se, portanto, de uma doença em geral secreta, que pode levar anos até ser diagnosticada e tratada. Por isso, a importância de investigar diretamente na anamnese a ocorrência de obsessões e compulsões que, mesmo assim, podem só ser admitidas pelo paciente quando o vínculo terapêutico estiver fortalecido. Alguns só procuram ajuda em fases de piora (p. ex: incapacitação, medo de perder o autocontrole sobre os impulsos) ou por complicações, como depressão secundária.

Entretanto, há pacientes ambivalentes ao considerar os sintomas absurdos, e alguns até acreditam e temem as conseqüências. Portanto, em casos mais graves ou em fases de agravamento, pode ocorrer prejuízo da crítica, com os sintomas não se apresentando como obsessões típicas, e sim como idéias prevalentes ou até delirantes.

Critérios Diagnósticos 

Há duas categorias de classificação do TOC : uma, junto aos “transtornos neuróticos, relacionados ao estresse e somatoformes”, mas separadamente dos transtornos ansiosos e fóbicos, e a outra classifica-o entre os transtornos de ansiedade. Isto já aponta uma controvérsia quanto à importância da ansiedade nesse transtorno, considerado por alguns mais próximo aos transtornos de humor ou de pensamento. 

Conclusões

O TOC é um quadro em geral secreto, que apresenta uma fenomenologia rica e diversificada, com infinitas possibilidades de apresentação, o que pode dificultar sua identificação. Envolve sempre medos descabidos, dúvidas insolúveis e comportamentos repetidos na busca de um alívio sempre fugaz. O grau de crítica pode variar entre os pacientes e no mesmo indivíduo conforme a ocasião. Implica, em geral, grande sofrimento e costuma ser subdiagnosticado e subtratado. 

Por fim, vale ressaltar que mesmo quando as apresentações clínicas são semelhantes, cada paciente reage ao problema conforme o contexto sociofamiliar e suas características de personalidade, aspectos que devem ser sempre considerados no manejo de cada caso particular.

A terapia cognitivo-comportamental, por sua vez, ajuda a identificar e questionar os pensamentos obsessivos e a controlar os comportamentos compulsivos. O objetivo é que o paciente aprenda a controlar seus sintomas e siga sua vida normalmente, de forma autônoma. 

Um médico ou profissional de saúde mental poderá lhe fazer perguntas específicas sobre seus pensamentos, sentimentos, sintomas e padrões de comportamento. O especialista pode, também, querer falar com familiares e amigos próximos, a fim de entender melhor o que se passa.

Tratamentos

A psicoterapia é considerada pelos médicos como uma das formas mais eficientes de tratamento para TOC. As técnicas psicoterápicas consistem em expor a pessoa gradualmente a situações em que, normalmente, ela lançaria mão de obsessões e compulsões para lidar. Esse processo continua até que o paciente consiga aprender maneiras saudáveis de lidar com a própria ansiedade, sem recorrer a essas características.


Certos medicamentos psiquiátricos podem ajudar a controlar as obsessões e compulsões do TOC. Em geral, costuma-se optar primeiramente por antidepressivos. Outras medicações psiquiátricas podem ser usadas também para tratar TOC.

Consulte um psicólogo!

Fonte : Scielo

Cultura & Terror.


Essa minha ideia de que o homem é, sobretudo, um ser cultural, não deve ser entendida como uma visão idealizada e otimista, pelos simples fato de que isso o distingue dos outros seres naturais.

Se somos seres culturais, se pensamos e com nosso pensamento inventamos os valores que constituem a nossa humanidade, diferimos dos outros animais, que se atêm a sua animalidade e agem conforme suas necessidades vitais imediatas.

Entendo que, ao contrário dos outros animais, o homem nasceu incompleto e, por essa razão, teve de inventar-se e inventar o mundo em que vive. Por exemplo, um bisão ou um tigre nasce com todos os recursos necessários à sua sobrevivência, mas o homem, para caçar o bisão, teve que inventar a lança.

Isso, no plano material. Mas nasceu incompleto também no plano intelectual, porque é o único animal que se pergunta por que nasceu, que sentido tem a existência. Para responder a essas e outras perguntas, inventou a religião, a filosofia, a ciência e a arte.

Assim, construiu, ao longo da história, uma realidade cultural, inventada, que alcança hoje uma complexidade extraordinária e fascinante. O homem deixou de viver na natureza para viver na cidade que foi criada por ele.

Mas, o fato mesmo de se inventar como ser cultural criou-lhe graves problemas, nascidos, em grande parte, daqueles valores culturais. É que, por serem inventados, variam de uma comunidade humana para outra, gerando muitas vezes conflitos insuperáveis. As diversas concepções filosóficas, religiosas, estéticas e políticas podem levar os homens a divergências insuperáveis e até mesmo a conflitos mortais.

Pode ser que me engane, mas a impressão que tenho é de que o homem, por ser essencialmente os seus valores, tem que afirmá-los perante o outro e obter dele sua aceitação. Se o outro não os aceita, sente-se negado em sua própria existência. Daí por que, a tendência, em certos casos, é levá-lo a aceitá-los por bem ou por mal. Chega-se à agressão, à guerra.

Certamente, nem sempre é assim, depende dos indivíduos e das comunidades humanas; depende sobretudo de quais valores os fundamentam.

De modo geral, é no campo da religião e da política que a intolerância se manifesta com maior frequência e radicalismo. A história humana está marcada por esses conflitos, que resultaram muitas vezes em guerras religiosas, com o sacrifício de centenas de milhares de vidas.

Com o desenvolvimento econômico e ampliação do conhecimento científico, a questão religiosa caiu para segundo plano, enquanto o problema ideológico ganhou o centro das atenções.

A questão da riqueza, da desigualdade social e consequentemente da justiça social tornou-se o núcleo dos conflitos entre as classes e o poder político.

Esse fenômeno, que se formou em meados do século 19, ocuparia todo o século 20, com o surgimento dos Estados socialistas. O ápice desse conflito foi a Guerra Fria, resultante do antagonismo entre os Estados Unidos e a União Soviética.

Surpreendente, porém, é que, em pleno século do desenvolvimento científico e tecnológico, tenha eclodido uma das expressões mais irracionais da intolerância religiosa: o terrorismo islâmico, surgido de uma interpretação fanatizada daquela doutrina.

O terrorismo não nasceu agora mas, a partir do conflito entre judeus e palestinos, lideranças fundamentalistas islâmicas o adotaram como arma de uma guerra santa contra a civilização ocidental, que não segue as palavras sagradas do Corão.

Em consequência disso, homens e mulheres jovens, transformados em bombas humanas, não hesitam em suicidar-se inutilmente, convencidos de que cumprem a vontade de Alá e serão recompensados com o paraíso.

Parece loucura e, de fato, o é, mas diferente da doença psíquica propriamente dita. É uma loucura decorrente do fanatismo político ou religioso, que muda o amor a Deus em ódio aos infiéis.

Embora o Corão condene o assassinato de inocentes, na opinião dos promotores de tais atentados – que matam sobretudo inocentes – só é proibido matar os “nossos” inocentes, como afirmou Bin Laden, não os inocentes “deles”.

Tudo isso mostra que o homem é mesmo um ser cultural, mas que a cultura tanto pode nos transformar em santos como em demônios.

Texto por : FERREIRA GULLAR

A síndrome da péssima mãe.


Este artigo poderia ir dirigido aos pais. Pais desejosos de desfrutar de seus filhos, passar tempo com eles; pais entregues, que brincam, que trocam fraldas e educam da mesma forma que as mães. Mas as mudanças sociais, profissionais e de papéis que a mulher protagonizou nestas últimas décadas e como essas mudanças tiveram impacto na maternidade merecem um artigo somente para elas. Pense durante alguns segundos no conceito de mãe, não na sua, nem na melhor ou pior mãe do mundo que você possa conhecer. Apenas reconsidere o que significa e o que associamos com “ser mãe”.Imagino que aparecem na sua cabeça ideias como “amor incondicional, abnegação, dedicação, ternura, abrigo, renúncia, satisfação, plenitude, realização pessoal, vida, entrega, estar sempre aí, lealdade, submissão...” E uma quantidade infinita de palavras relacionadas com entregar tudo por alguém.

Esse é o conceito com o qual fomos educados. A mãe é essa pessoa incondicional que nunca vai falhar. Essa pessoa capaz de renunciar a tudo para que você esteja bem, a que espera com paciência, a que sempre tem uma palavra de apoio para animar ou a que empresta seu ombro para você chorar quando for preciso. Esta visão de mãe é de quando as mulheres eram educadas para não terem outra ambição mais do que serem boas esposas, mulheres, educadoras e transmissoras de valores; quando só se dedicavam a cuidar da família e organizar o lar, costurar, fazer coletas, tirar piolhos, cozinhar, limpar ou mandar em quem limpava a casa. Havia exceções, claro, como Marie Curie, física, matemática, química, mãe de duas filhas e premiada com dois prêmios Nobel, mas não era a regra geral.

Mas os tempos mudaram. Muitas avós dizem: “Como é difícil para vocês triunfarem agora”. Não basta ter filhos limpos, bons estudantes e educados. Triunfar hoje em dia para a mulher implica ser boa mãe, uma profissional brilhante; conseguir ter um grupo de amigas; aprender a ser independente em nível emocional e econômico; ter um tempo para ler, fazer exercício e ter hobbies; usar manequim 40 pelo resto da vida; ter ao lado um homem que valorize seu esforço, seu trabalho, goste como ela é, seja carinhoso e compreensivo, e saiba compatibilizar com você as tarefas domésticas e a educação dos filhos. 

Muitos modelos, exigências e expectativas altíssimas, que no final levam a repetir o modelo de mulheres orquestras que têm a sensação de estar em tudo sem chegar a nada. E quando você acredita que não está cumprindo à perfeição com a prioridade entre todas suas atividades, que costuma ser a atenção a seus filhos, acaba se valorizando de forma negativa. Há mães que acreditam ser “péssimas mães” por não cumprir com suas expectativas ou as impostas pela sociedade.

Não dê pontos a seu valor como mãe em função da quantidade de tempo que dedica aos filhos. O que deve ser valorizado e ao que você deve dedicar sua atenção é à qualidade das relações e ao vínculo com seus filhos. Tampouco deve se sentir culpada por compatibilizar sua maternidade com seu trabalho profissional, por dedicar tempo a sair para correr ou querer ler um livro sozinha e tranquila na poltrona. Seus filhos serão mais felizes se sua mãe se sente satisfeita, plena e profissionalmente realizada. Não se engane convencendo-se de que ser mãe é suficiente para se sentir completa.

Se conseguir compatibilizar seu trabalho, sua vida social, com o tempo que dedica a si mesma e aos filhos, vai ser mais feliz que se viver de forma abnegada e com sacrifício a relação com seus filhos. Proponho estas ideias:

Proteja seus filhos com conselhos, com argumentos, guiando, educando com valores, delimitando o bem do mal. Mas deixe que eles tomem decisões, caiam e se levantem. Não proteja demais. Não será uma mãe melhor se tirar o perigo da frente deles. Os problemas sempre vão estar aí, esteja você com eles ou não. Não dá para tirar as pedras do caminho deles, só dá para ensiná-los a evitá-las. Não se sinta responsável por seus fracassos. Eles precisam se equivocar, tomar decisões e lidar com a frustração. Muitas mães tentam ajudar para evitar que seus filhos se sintam frustrados. Terminam os trabalhos do colégio para eles, limpam seus quartos, levam a roupa esportiva que esqueceram em casa... Com isso, educam na irresponsabilidade, a não assumir as consequências de serem esquecidos, pouco organizados ou preguiçosos. Não fique amargurada se seu filho passa por maus momentos, eles vão aprender.

Não tente compensar o tempo que não pode passar com eles comprando coisas. Não há nada para compensar. Trabalhar e ter hobbies faz parte da plenitude de uma pessoa e você é mãe, mas também é uma pessoa. Só tente estar presente quando dedicar tempo a seus filhos. Isso significa comunicação, escutar, não pegar o celular enquanto está brincando, comendo ou vendo um filme com eles. Deve desfrutar plenamente o que, nesse momento, está vivendo com eles. Se, no tempo que passa com seus filhos, está pensando nos e-mails pendentes que precisa responder, e quando está no trabalho pensa que não é uma boa mãe por não poder dedicar mais tempo às crianças, nunca estará realmente em nenhum dos dois lugares. Além disso, as crianças não valorizam tanto os presentes quanto os pais imaginam. O que valorizam é que você dedique toda sua atenção quando estiver com eles.

Faça com que respeitem seu tempo. Não é uma péssima mãe por ter um tempo para você mesma. Usar o banheiro sozinha e com trinco, ler um tempo sem ser interrompida por vozes do outro quarto, praticar seu esporte ou manter uma conversa privada com quem quiser sem ter seu filho perseguindo-a pela casa. Se educamos os filhos estando sempre disponíveis cada vez que nos procurarem, entenderão que eles merecem sempre nossa atenção e suas necessidades se transformarão em exigências. Eduque-os a ter paciência, saber esperar, que existem outras pessoas que também exigem nossa atenção.

Não renuncie a um jantar romântico, a um passeio com seu amor ou a passar momentos sozinhos com seu marido ou com amigos. É muito frequente ver como casais que têm filhos terminam dormindo com eles na cama, fazendo absolutamente tudo com as crianças. A cumplicidade do casal termina desaparecendo, inclusive o romantismo. São casais que entendem que seus filhos merecem tudo e que ser pai significar ser abnegado. Mas o tempo é questão de matemática: se dedicar 24 horas aos filhos, vai sobrar zero para estar sozinha, falar de temas de adultos, ver filmes que não sejam desenhos animado e se beijar com paixão. Procure dedicar um dia por semana ao casal e desconecte-se de chupetas, fraldas, lições ou momentos adolescentes.

Lembre-se de se valorizar não apenas pela relação que mantém com seus filhos. Você tem valor por muitas outras coisas. É grande, brilhante, imperfeita, engraçada, carinhosa, organizada, leitora, boa amiga, paciente e muitas outras virtudes que podem ter a ver ou não com a ideia de ser mãe.

Nem tudo o que acontece com seus filhos é responsabilidade sua. Não se sinta mal se a criança leva uma bronca da professora, se tem um conflito com um amigo ou se não é muito bom praticando algum esporte. Ensine-o a pedir perdão, a resolver problemas, a refletir, mas não se responsabilize por tudo que seu filho faz e diz. Os pais educam, mas os filhos também copiam modelos de conduta do que veem na televisão, do que leem, do que veem em seus amigos, professores e treinadores. Estão continuamente expostos a outras fontes de informação. É sua responsabilidade saber em que time joga e que valores há no clube, na eleição do colégio, conhecer os amigos com que sai e ser consciente de quais programas vê na TV. Mas não poderá controlar tudo. Tente fomentar a comunicação e o respeito e gere confiança para que seus filhos falem de tudo.

Texto por : Patricia Ramírez
Fonte : El País

A mensagem tóxica de 50 TONS DE CINZA.


A carta de uma psiquiatra sobre "Cinquenta tons de cinza" para jovens.


Por Miriam Grossman

Não há nada de cinza sobre os 50 tons de cinza. É tudo preto.

Deixe-me explicar.

Eu ajudo pessoas que estão quebradas por dentro. Ao contrário dos médicos que utilizam raios X ou exames de sangue para determinar por que alguém está com dor, as feridas que me interessam estão ocultas. Faço perguntas e ouço atentamente as respostas. É assim que eu descubro por que a pessoa na minha frente está "sangrando".

Anos de escuta atenta me ensinaram muito. Uma coisa que eu aprendi é que os jovens são totalmente confusos sobre o amor - para achá-lo e mantê-lo. Eles fazem escolhas erradas e acabam sofrendo muito.

Eu não quero que você sofra como as pessoas que vejo em meu escritório, por isso estou avisando sobre um novo filme chamado Cinquenta Tons de Cinza. Mesmo se você não ver o filme, sua mensagem tóxica está se infiltrando na nossa cultura e poderia plantar ideias perigosas em sua cabeça.

Cinquenta Tons de Cinza está sendo lançado no Dia dos Namorados, então você vai pensar que é um romance, mas não caia nessa. O filme é realmente sobre uma relação doentia e perigosa, preenchido com abuso físico e emocional. Parece glamouroso, porque os atores são lindos, têm carros caros e aviões, e Beyonce está cantando. Você pode concluir que Christian e Ana são legais e que seu relacionamento é aceitável.

Não se permita ser manipulado! As pessoas por trás do filme só querem o seu dinheiro; eles não se preocupam nem um pouco com você ou seus sonhos.


Abuso não é glamouroso ou legal. Nunca é OK, sob quaisquer circunstâncias.

Isto é o que você precisa saber sobre Cinquenta Tons de Cinza: Christian Grey foi terrivelmente negligenciado quando era uma criança. Ele está confuso sobre o amor, porque ele nunca experimentou a coisa real. Em sua mente, o amor está emaranhado com sentimentos ruins como dor e o constrangimento. Christian gosta de machucar mulheres de formas bizarras. Anastasia é uma menina imatura que se apaixona pelos olhares e pela riqueza de Christian, e tolamente segue seus desejos.

No mundo real essa história iria acabar mal, com Christian na cadeia e Ana em um abrigo - ou morgue. Ou Christian continuaria batendo em Ana, e ela sofreria como nunca. De qualquer maneira, as suas vidas não seriam um conto de fadas. Confie em mim.

Como médica, estou lhe pedindo: não assista Cinquenta Tons de Cinza. Se informe, conheça os fatos e explique aos seus amigos por que eles não devem assitir também.

Aqui estão algumas das ideias perigosas promovidas em Cinquenta Tons de Cinza:

1. As meninas querem caras como Christian: Grosseiro e que mande nela.
Não! Uma mulher psicologicamente saudável evita dor. Ela quer se sentir segura, respeitada e cuidada por um homem que ela pode confiar. Ela sonha com vestidos de casamento, não algemas.

2. Homens querem uma garota como Anastasia: Calma e insegura.
Errado. Um homem psicologicamente saudável quer uma mulher que sabe se defender por si mesma. Ele quer uma mulher que o corrija quando ele sair da linha.

3. Anastasia exerce livre escolha quando ela consente em ser machucada, então ninguém pode julgar a sua decisão.
Lógica falha. Claro, Anastasia tinha livre escolha - e ela escolheu mal. A decisão auto-destrutiva é uma má decisão.

4. Anastasia faz escolhas sobre Christian de forma racional e distante.
Duvidoso. Christian constantemente serve Anastasia com álcool, prejudicando seu julgamento. Além disso, Anastasia se torna sexualmente ativa com Christian - sua primeira experiência - logo após conhecê-lo. O sexo é uma experiência poderosa - particularmente na primeira vez. Finalmente, Christian manipula Anastasia para assinar um acordo que a proíbe de falar a alguém que ele é um abusador. Álcool, sexo e manipulação - dificilmente seriam os ingredientes de uma decisão racional.

5. Os problemas emocionais de Christian são curados pelo amor de Anastasia.
Apenas em um filme. No mundo real, Christian não mudaria de forma significativa. Se Anastasia quisesse ajudar pessoas emocionalmente perturbadas, ela deveria ter se tornado uma psiquiatra ou uma psicóloga.

A principal questão: as idéias de Cinquenta Tons de Cinza são perigosas e podem levar à confusão e más decisões sobre o amor. Existem grandes diferenças entre os relacionamentos saudáveis e não-saudáveis, mas o filme borra essas diferenças, de modo que você começa a se perguntar: o que é saudável em um relacionamento? O que é doentio? Há tantos tons de cinza ... Eu não tenho certeza.

Ouça, é da sua segurança e do seu futuro que estamos falando aqui. Não há margem para dúvidas: uma relação íntima que inclui violência, consensual ou não, é completamente inaceitável.

É preto e branco. Não existem tons de cinza aqui. Nem mesmo um.

Fonte : PSICONLINEWS

A complicada arte de ver.

Ela entrou, deitou-se no divã e disse: "Acho que estou ficando louca". Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. "Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões _é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto."

Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Elementales", de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Cebola" e lhe disse: "Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: 'Rosa de água com escamas de cristal'. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver".

Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.

William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.

Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.

Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada "satori", a abertura do "terceiro olho". Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: "Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram".

Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, "seus olhos se abriram". Vinícius de Moraes adota o mesmo mote em "Operário em Construção": "De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa _garrafa, prato, facão_ era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção".

A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas _e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.

Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas".

Por isso _porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver_ eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar "olhos vagabundos"...

Texto por : Rubem Alves, escritor e educador. 

Observar e pensar.

O primeiro passo para aprender a pensar, curiosamente, é aprender a observar. Só que isso, infelizmente, não é ensinado. Hoje nossos alunos são proibidos de observar o mundo, trancafiados que ficam numa sala de aula, estrategicamente colocada bem longe do dia-a-dia e da realidade. Nossas escolas nos obrigam a estudar mais os livros de antigamente do que a realidade que nos cerca. Observar, para muitos professores, significa ler o que os grandes intelectuais do passado observaram – gente como Rousseau, Platão ou Keynes. Só que esses grandes pensadores seriam os primeiros a dizer "esqueçam tudo o que escrevi", se estivessem vivos. Na época não existia internet nem computadores, o mundo era totalmente diferente. Eles ficariam chocados se soubessem que nossos alunos são impedidos de observar o mundo que os cerca e obrigados a ler teoria escrita 200 ou 2.000 anos atrás – o que leva os jovens de hoje a se sentir alienados, confusos e sem respostas coerentes para explicar a realidade.

Não que eu seja contra livros, muito pelo contrário. Sou a favor de observar primeiro, ler depois. Os livros, se forem bons, confirmarão o que você já suspeitava. Ou porão tudo em ordem, de forma esclarecedora. Existem livros antigos maravilhosos, com fatos que não podem ser esquecidos, mas precisam ser dosados com o aprendizado da observação.

Ensinar a observar deveria ser a tarefa número 1 da educação. Quase metade das grandes descobertas científicas surgiu não da lógica, do raciocínio ou do uso de teoria, mas da simples observação, auxiliada talvez por novos instrumentos, como o telescópio, o microscópio, o tomógrafo, ou pelo uso de novos algoritmos matemáticos. Se você tem dificuldade de raciocínio, talvez seja porque não aprendeu a observar direito, e seu problema nada tem a ver com sua cabeça. 

Sou formado em contabilidade e administração. A contabilidade me ensinou a observar primeiro e opinar (muito) depois. Ensinou-me o rigor da observação, da necessidade de dados corretamente contabilizados, e também a medir resultados, a recusar achismos e opiniões pessoais. Aprendi ainda estatística e probabilidade, o método científico de chegar a conclusões, e finalmente que nunca teremos certeza de nada. Mas aprendi muito tarde, tudo isso me deveria ter sido ensinado bem antes da faculdade.

Ensinar a observar não é fácil. Primeiro você precisa eliminar os preconceitos, ou pré-conceitos, que são a carga de atitudes e visões incorretas que alguns nos ensinam e nos impedem de enxergar o verdadeiro mundo. Há tanta coisa que é escrita hoje simplesmente para defender os interesses do autor ou grupo que dissemina essa idéia, o que é assustador. Se você quer ter uma visão independente, aprenda correndo a observar você mesmo.

Se eu fosse ministro da Educação, criaria um curso obrigatório de técnicas de observação, quanto mais cedo na escala educacional, melhor. Incentivaria os alunos a estudar menos e a observar mais, e de forma correta. Um curso que apresentasse várias técnicas e treinasse os alunos a observar o mundo de diversas formas. O curso teria diariamente exercícios de observação, como:

1. Pegue uma cadeira de rodas, vá à escola com ela por uma semana e sinta como é a vida de um deficiente físico no Brasil.

2. Coloque uma venda nos olhos e vivencie o mundo como os cegos o vivenciam.

3. Escolha um vereador qualquer e observe o que ele faz ao longo de uma semana de trabalho. Observe quanto ele ganha por tudo o que faz ou não faz.

Quantas vezes não participamos de uma reunião e alguém diz "vamos parar de discutir", no sentido de pensar e tentar "ver" o problema de outro ângulo? Quantas vezes a gente simplesmente não "enxerga" a questão? Se você realmente quiser ter idéias novas, ser criativo, ser inovador e ter uma opinião independente, aprimore primeiro os seus sentidos. Você estará no caminho certo para começar a pensar.

Texto por : Stephen Kanitz (administrador por Harvard)

Pílula do dia seguinte não é prática de prevenção e sim de aborto.

Existem dois tipos de pílula do dia seguinte: um deles vem em dose única (apenas um comprimido) e o outro vem com dois comprimidos (um deve ser ingerido logo após a relação e outro após exatamente 12 horas). Seja qual for o tipo, o que recomenda o medicamento é utilzar 72 horas após a relação desprotegida, pois quanto mais tempo você demorar a tomar, menor será a eficácia.

Os efeitos colaterais da pílula de contracepção de emergência são bastante fortes. O mais frequente deles é a alteração no ciclo menstrual e do tempo de ovulação. Após a ingestão da pílula, calcular seu período fértil e o dia da sua menstruação será muito mais difícil por um ou dois ciclos. Outros sintomas são dor de cabeça, sensibilidade aumentada nos seios, náuseas e vômitos. E vale dizer que é um método abortivo, porque se realmente o óvulo já foi fecundado, ali já começou a ser gerada uma vida, mesmo que muito precocemente. 

A conclusão óbvia, que ninguém poderia negar, é que a chamada "pílula do dia seguinte" é abortiva. Isso, porém, todos fabricantes, cientistas e farmacêuticos negam, aliás eles querem lucrar com isso. É uma simples questão de bom senso (e não de grandes conhecimentos de Biologia).

Esquizofrênico registra em livro experiência de enlouquecer.



Agradecimentos : Folha de São Paulo