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Faculdade de Medicina estuda perfil psicológico dos futuros médicos.


Ser estudante do ensino superior não é fácil. Sair de casa, criar uma nova rede de amigos e dar resposta a um nível de exigência académica elevado pode ser difícil de gerir. Ser estudante de Medicina pode ser ainda mais complicado, quer pelo esforço que permitiu ao estudante ter notas para ingressar neste curso, quer pelos desafios que se lhe vão apresentar nos anos subsequentes.

Por isso, a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) está a desenvolver um estudo que pretende avaliar o perfil psicológico dos estudantes de Medicina, intitulado «To be a doctor» (Medical education: a longitudinal study of students’ satisfaction, performance and psychosocial profile). O projecto vai seguir um grupo de estudantes desde o 1.º ano do curso até aos primeiros anos de vida profissional.

De acordo com Margarida Braga, professora da FMUP e investigadora responsável por este projecto, «o objectivo do estudo é avaliar a experiência que o curso de Medicina vai representar para os estudantes em função de características pessoais (género, personalidade, experiência pessoal, capacidade de comunicação, forma de lidar com o stress) e do contexto (exigências curriculares, actividades de lazer, relacionamentos afectivos e suporte social), a performance académica e a satisfação».   


Para isso, a equipa vai avaliar os estudantes através de entrevistas e resposta a questionários, de modo regular, ao longo dos 6 anos de curso e nos 3 primeiros anos de prática clínica. A avaliação incluirá um estudo laboratorial com doseamento de substâncias que se sabe serem marcadores de níveis elevados de stresse e sinalizará o risco para algumas doenças.

Sabe-se que uma percentagem elevada de estudantes do ensino superior tem, por exemplo, níveis de ansiedade altos. Os investigadores do Departamento de Neurociências Clínicas e Saúde Mental da FMUP querem saber porquê, em que medida essa ansiedade está relacionada com as características pessoais de cada um e com a vida académica, e se há algum risco importante para a saúde dos estudantes. Pretendem ainda conhecer quais os factores que protegem os estudantes e contribuem para manter o seu bem-estar. Vai ser pedido aos estudantes que indiquem o seu grau de satisfação com o curso e com a sua vida pessoal e social ao longo dos anos.

Os resultados deste trabalho vão «contribuir para o conhecimento científico de modo a melhorar a compreensão da experiência académica e profissional dos estudantes de medicina, do impacto pessoal e profissional dessa experiência». Para se tornarem médicos, os estudantes terão de adquirir conhecimentos teóricos e práticos, e aprender a comunicar com os doentes de modo a construir com eles uma relação terapêutica. Sabe-se que a saúde dos estudantes de medicina tem impacto no seu desempenho escolar, e na qualidade da sua prática clínica. Em última análise, as conclusões deste estudo vão permitir intervir, minimizando o stresse dos estudantes de Medicina e melhorando a sua qualidade de vida. «O bem-estar físico e psicológico dos estudantes é a nossa maior preocupação», frisa a investigadora, «por isso contamos com a sua adesão maciça».

Neste momento, o «To be a doctor» está a analisar apenas os estudantes da FMUP. Mas, em breve, os investigadores vão incluir estudantes de outras faculdades.

A equipa de investigação colabora com estudos que estão a ser desenvolvidos noutras universidades do país, do Reino Unido e do Brasil.

Em preparação está também a avaliação dos padrões do sono dos futuros médicos, que deverá ser realizada com a colaboração de uma equipa de investigação da Universidade de Aveiro e de Braga.

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